- A mercearia chega ao monte


Numa tarde em que estávamos em Alcaria Alta, passei por casa da prima Claudina, que estava sentada à porta, com a Ti Etelvina e a prima Maria Teixeira. Estávamos na conversa, quando se ouviu uma carrinha a apitar alto e bom som. "Aí está a mercearia!"
Explicaram-me que era um "rapaz" que vinha às Quintas-feiras, de quinze em quinze dias, com uma carrinha que trazia muitas mercearias. Fui num instante a casa buscar a carteira e dirigi-me também à mercearia. Tratava-se de uma carrinha grande, com prateleiras carregadas e diversos produtos expostos. Foram-se aproximando outras pessoas do monte, para fazer as suas compras e, à medida que iam sendo atendidas, iam refilando dos preços e do senhor estar cada vez mais careiro...
Entretanto, chegou a minha vez e pedi dois saquinhos de biscoitos secos, uns de amêndoa e outros de sésamo, e um queijinho de cabra fresco, que estava num tabuleiro cheio deles com muito bom aspecto. Paguei a "módica" quantia de 5,40€ e apercebi-me bem do que estes produtos são inflacionados... Um simples pacote de manteiga, que custou à tia Etelvina 2,35€, reparei, uns dias mais tarde custar no Modelo de Albufeira 1,75€, ou seja, menos 60 cêntimos!
É óbvio que aquele senhor não pode praticar os preços de uma grande superfície comercial, mas não serão sessenta cêntimos num pacote de manteiga, um exagero...?
A Prima Claudina suspirou, dizendo que "se não fosse o que eles nos dão todos os meses, a gente não se governava...", como que a dar graças pelos duzentos e tal euros que o seu país lhe dá, depois de ter passado uma vida inteira a trabalhar.
Não basta o isolamento a que estas pessoas são votadas, não basta estarem no lote dos pensionistas com as pensões mais baixas, ainda sofrem a inflacção como ninguém...

- Imagens do Percurso "Memória Viva"

Maravilhas da Primavera ao longo do percurso "Memória Viva"...





- Percurso "Memória Viva" - Martim Longo

Depois de termos feito os percursos do Viçoso e do Pereiro, fomos fazer o de Martim Longo, intitulado "Memória Viva", que também se encontra relativamente perto de Alcaria Alta.
Saímos do monte, depois de um pequeno almoço reforçado (papas de aveia com maçã), em direcção a Martim Longo, o percurso começa na rotunda que fica mesmo no centro, seguindo para a saída da vila em direcção a Diogo Dias.
Antes ainda fizémos uma paragem no Restaurante-café Monte Branco, à entrada de Martim Longo, pois já tinhamos feito 10km desde Alcaria Alta...
Fomos até à rotunda inicial e seguimos por dentro da aldeia até à sua saída, por uma estrada de terra batida e passando entre dois muros de pedra que pareciam bastante antigos. Seguimos por montes verdejantes e coloridos de flores diversas, ribeirinhos a correr, ruínas, até chegar à povoação do Silgado. Aqui parámos um pouco para descansar, após uma grande subida, junto a um pastor que guardava ovelhas, o sr. Manuel de Brito. Perguntou-nos se éramos professores, se "dávamos escola" ali em Martim Longo pois, pelos vistos, os professores é que costumam usar o percurso para andar de bicicleta e fazer caminhadas.

Em conversa disse-nos que o Silgado já estava desabitado, ele próprio ali tinha as suas casas e o seu gado, continuando a actividade do seu pai já falecido, mas já tinha comprado uma casa em Martim Longo, onde actualmente vivia. No entanto, deslocava-se diariamente ao Silgado, para tratar do gado e ainda de algumas terras que ainda cultiva. O sr. Manuel confessou-nos que a sorte são os subsídios que ainda recebe, mas que não lhe dão para cultivar todas as suas terras. Os lavradores, que com os seus tratores prestam serviços a lavrar as terras, levam "cinco contos" à hora, por isso, muitas terras ficam por lavrar e, consequentemente, por cultivar...

Seguimos viagem apanhando um pouco da estrada alcatroada que passa no Silgado, mas virámos logo por um caminho de terra batida. Passados umas centenas de metros perdemo-nos um bocado, pois o caminho do percurso seguia por um pequeno barranco que estava cheio de silvas. Um pouco mais à frente acabámos por encontrar de novo o caminho certo, mas poderíamos ter-nos perdido a sério...
O sr. Manuel de Brito tinha-nos dito que há uns tempos, quando ali passou o rali, fizeram cair uma placa de sinalização do percurso e ele é que a tentou pôr de pé, uma vez que a base já estava podre... No dia seguinte, no posto de turismo de Alcoutim, ficámos a saber que aquele (e alguns outros percursos do concelho) não são oficiais, pois não foram aprovados pela Federação de Campismo e Caravanismo, Secção de Pedestrianismo. Oficiais ou não, nós gostamos deles na mesma, mas seria conveniente que tivessem alguma manutenção.
Passado um bocado apercebemo-nos que estávamos a fazer a segunda parte do percuso no sentido contrário ao que vinha no mapa, pois demos connosco a chegar à Barrada, quando deveríamos estar a chegar a Diogo Dias. Não nos importámos muito com isso, uma vez que o percurso tem uma forma aproximada do número 8, quando voltássemos a passar no Silgado, só teríamos de segir em direcção a Martim Longo.


Continuámos a apreciar a paisagem bucólica com a Primavera a despontar a cada monte, passámos por Azinhal, por ruínas de moinhos de vento e chegámos a Diogo Dias, onde um senhor nos indicou o caminho a seguir, enquanto cortava um pedaço de chouriço em cima de um naco de pão. Demos connosco novamente no Silgado e, depois de mais uns dedos de conversa com o sr. Manuel de Brito, seguimos em direcção a Martim Longo e, de seguida, a Alcaria Alta. Fizémos um total de 35km.

Percursos do concelho de Alcoutim (pdf)
Percurso "Memória Viva" (pdf)