- O pastor do Viçoso

.Depois de visitarmos o Viçoso, descemos o monte e avistámos um enorme rebanho de cabras. Como elas estavam a ocupar uma boa parte do caminho e dirigiam-se na nossa direcção, parámos um pouco para não as assustar e aproveitámos para tirar umas fotos.
O pastor estava debaixo de uma árvore a abrigar-se do calor que se fazia sentir e, ao ver o rebanho a subir o monte, teve de deixar o seu posto para tentar apanhar as cabras que se dispersavam.
Tratava-se do Sr. António Madeira, que vivia em Giões e vinha para ali pastar o seu rebanho, diariamente. A conversa desenrolou-se e acabámos por saber que tinha sido o último habitante do Viçoso.
Há 34 anos, quando faleceu o último membro de uma outra família da aldeia, o Sr. António e a família decidiram mudar-se para Giões, a sede da freguesia, terra da sua esposa, e abandonar o isolamento a que ficariam votados se permanecessem no Viçoso…
E assim fomos informados de que o monte do Viçoso está desabitado há 34 anos, altura em que os montes ainda nem electricidade tinham, pois não se vê um poste ou uma instalação nas casas.
Foi curioso encontrar o Sr. António Madeira, o habitante que migrou para outro local mas que, diariamente, vai pastar o seu gado para as imediações do monte que o viu nascer e onde viveu a maior parte da vida…
Na nossa conversa não ficámos a saber a idade do pastor do Viçoso, mas disse-nos que era da idade do meu avô, que tinha conhecido muito bem, ou seja, andará pelos oitenta e dois ou oitenta e três. O que é de louvar é que, apesar da idade, aparenta estar “viçoso” e continua a adiar o dia da reforma.

Depois da conversa e das cabras novamente sob a sua alçada, o Sr. António voltou para debaixo da árvore, as cabras puseram-se a pastar à sua volta e nós seguimos caminho...

- Imagens do percurso do Viçoso

Os momentos são muitos, ficam apenas alguns que marcam um percurso com uma grande riqueza cultural e natural...

- O percurso do Viçoso

Nas nossas idas ao monte, um dia é sempre dedicado aos passeios de bicicleta. Desta vez decidimos fazer um dos oito percursos do concelho de Alcoutim: o percurso do Viçoso.
O percurso inicia-se em Giões, seguindo pelo caminho que leva ao lavadouro público. Está bem sinalizado e basta seguir as indicações para fazer os 3 km até ao monte do Viçoso, que lhe dá o nome.
O Viçoso é um dos mais fortes testemunhos da desertificação do concelho de Alcoutim e do interior algarvio. É uma aldeia completamente desabitada, com casas de xisto em ruínas, alguns resquícios de cal branca e vários telhados caídos.

A vegetação invadiu as casas, os caminhos de pedra, os fornos e os muros que resistem no tempo. A espécie invasora por excelência é a figueira-da-índia, um enorme cacto de troncos grossos que se encontra um pouco por todo o lado.O seu fruto, o figo-da-índia, era um dos alimentos que antigamente se dava aos porcos. As sementes por lá ficaram e, hoje em dia, crescem desordenadamente nas antigas pocilgas há muito desabitadas.

Como já tínhamos feito uns 8 km (Alcaria Alta - Giões - Viçoso) e o pequeno almoço já lá ia, sentámo-nos numas pedras debaixo de uma amendoeira para merendar antes de voltar à estrada. De frente para as casas abandonadas, conversámos sobre as pessoas que ali teriam vivido e imaginámos os tempos em que o Viçoso fazia jus ao nome...
Descemos o monte e passámos por um enorme rebanho de cabras que já tínhamos avistado ao longe. Em conversa com o pastor ficámos a saber que, juntamente com a sua família, foi o último habitante do Viçoso. Este curioso episódio ficará para contar posteriormente, num texto a ele dedicado.

O percurso ia no início e ainda tínhamos muitos quilómetros de subidas e descidas pela frente. Seguímos caminho por entre os montes de vegetação já seca, sob o calor de Maio que já apertava, em direcção a Farelos, a povoação que se seguia.
Fomos passando por pequenas ribeiras que já nem corriam e das quais restavam apenas alguns charcos, no entanto, ricos de fauna e flora. Ao aproximarmo-nos, dezenas de rãs saltavam para a água à nossa frente.

Avistámos o monte de Farelos, que se erguia lá no alto. A subida até à povoação é uma das mais íngremes de todo o percurso que, no geral, é de dificuldade moderada.
Chegámos estafados e, como era a hora do calor, não se via vivalma. Fomos passando pelas casas caiadas de branco de portas e janelas fechadas até que avistámos umas botijas de gás e uma caixa de correio junto a uma porta que parecia aberta, por trás das fitas verdes.

Entrámos no café-mercearia onde a senhora proprietária nos serviu água fresquinha e gelados. Apesar de ser uma aldeia pequena, várias pessoas entravam e sairam do estabelecimento. Um senhor que estava a beber café quando chegámos, uma menina que comprou dois gelados, um pedreiro que devia andar a trabalhar e foi buscar uma cerveja e uma coca-cola, entre outros fregueses...
Continuámos em direcção a Clarines, a povoação que fica mesmo ao lado de Farelos. Mais uma vez não vimos ninguém nas ruas e parámos numa fonte para beber água e encher as garrafas.

Seguimos por um caminho de terra batida e acabámos por nos desviar um pouco do percurso. Fomos na direcção que nos parecia ser a que levaria a Giões e acabámos por andar uns quilómetros perdidos, apesar de não ter sido em vão, porque a paisagem era igualmente interessante.
A certa altura, encontrámos uma estrada alcatroada e demos connosco de volta ao percurso, pois era a estrada de Clarines a Giões, onde este terminava. Como a estrada vai dar precisamente ao café Poço Novo, fizémos mais uma paragem para retemperar forças para a viagem de volta a Alcaria Alta...

Informações:

Percurso pedestre/BTT do Viçoso (pdf)

Percursos pedestres/BTT do concelho de Alcoutim